O Álbum de Memórias conversou com 06 escritores(as) sobre a importância da leitura crítica em sua produção literária.
Vamos aos depoimentos.
Fabiane Guimarães
“A leitura crítica é fundamental para que eu possa me situar no meu próprio universo. É o primeiro termômetro se uma história está funcionando ou não. Tenho pessoas de confiança a quem encaminho os trabalhos, que me dão uma opinião verdadeira e embasada. Não digo que mude de forma radical, mas o livro certamente é aperfeiçoado por essas primeiras leituras (e também após a revisão da agente e da editora). Escrever é um ato solitário, e por vezes ficamos com o olhar viciado. A opinião dos meus primeiros leitores me ajuda a entender se a mensagem que eu quero passar está ressoando ou apenas caindo no vazio.”
Fabiane Guimarães é autora do romance “Apague a luz se for chorar” (Alfaguara, 2021). Também escreveu a novela seriada “Pequenas Esposas”, publicada pela revista digital AzMina, além de diversos contos em antologias e revistas semanais.
Lucas Verzola
“Acredito que a literatura, assim como qualquer manifestação artística, precisa necessariamente passar por crivos e escrutínios antes e depois de se tornar pública. Eu tenho o privilégio de ter uma companheira artista, com quem estou trocando impressões vinte e quatro horas por dia, e é minha primeira leitora. Meus melhores amigos são escritores e estamos muito familiarizados com a produção uns dos outros, assim não espero que eles peguem leve com meus textos. E, ainda assim, nada disso é suficiente sem uma leitura crítica profissional e contratada, em que o leitor assume compromisso formal e me entrega um serviço. Assim como um estudante de mestrado ou doutorado sabe que precisará contratar um revisor para sua dissertação ou tese, acredito que em breve todo autor entenderá a importância de um leitor crítico para um original. É, sem dúvida, a principal forma de avaliar uma versão de um livro em andamento pensando na sua estrutura, no emprego da linguagem, na urgência e no senso de contemporaneidade dos temas tratados e recursos estéticos empregados.”
Lucas Verzola é autor do romance “Á última cabra” (Reformatório, 2019), e dos livros de contos “Em conflito com a lei: Submundos” (Reformatório, 2020) e “São Paulo Depois de Horas” (Patuá, 2014). Tem poemas e contos publicados em revistas literárias e antologias.
Micheliny Verunschk
“Geralmente, ao terminar um romance, envio o original para alguns amigos e amigas, alguns deles escritores e outros, não, para uma leitura crítica. Depois de um tempo escrevendo e revisando uma narrativa de ficção, acontece comigo uma espécie de cegueira para o texto, de modo que o olhar do outro pode chamar atenção para pontos obscuros, inconsistências, entre outras coisas.”
Micheliny Verunschk é autora do romance “O som do rugido da onça” (Companhia das Letras, 2021) e outros livros de ficção e poemas. Venceu o Prêmio São Paulo de Literatura com o romance “Nossa Teresa: vida e morte de uma santa suicida” (Patuá, 2014).
Michel Laub
“Sim, sempre pedi para algumas pessoas lerem meus livros antes mesmo de mandá-los para a editora. Em geral são 4 ou 5 pessoas, de perfis diferentes − alguns são leitores profissionais (editores, escritores), outros são amigos, outros conhecem bem o universo que trato nos livros (e essa leitura é importante no nível realista mais básico, de adequação da linguagem/história àquele universo). Sempre faço isso em pontos mais adiantados da escrita, quando tenho pelo menos um esqueleto da história. Então, as leituras são importantes no acabamento, sem dúvida. Já na concepção do romance, nas escolhas de ponto de vista, tempo, espaço etc., eu sigo só a minha intuição/experiência.”
Michel Laub é autor de oito romances, todos publicados pela Companhia das Letras. Suas últimas obras são “A solução de dois Estados” (2020) e “O tribunal da quinta-feira” (2016) e “Diário da queda” (2011).
Natalia Borges Polesso
“A escrita de um livro tem várias etapas que vão desde anotações esparsas até os processos editoriais finais. A leitura crítica para mim é uma etapa crucial. Eu sempre peço uma ou no máximo duas leituras quando acho que o livro está (quase) pronto. Eu tenho um grupo de amigos e amigas que escrevem e nos lemos sempre, além de nos encontrarmos (virtualmente) para conversar sobre nossos projetos. A leitura crítica tem que ser um ato de vulnerabilidade e o ideal é que o autor ou autora também faça perguntas sobre o que acha que funciona e o que não funciona na narrativa. Uma boa leitura crítica pode te livrar de diversos problemas de consistência. Eu discordo quando dizem que a gente escreve algo sozinha, há muita partilha nos livros, ao menos há nos livros que eu escrevo.”
Natalia Borges Polesso publicou o romance “A extinção das abelhas” (Companhia das Letras, 2021) e é coautora de “Corpos secos” (Companhia das Letras, 2020). Venceu o Prêmio Jabuti em 2016 com o livro de contos “Amora” (Dublinense).
Rafael Gallo
“Sim, a leitura crítica de outras pessoas é fundamental para mim. Primeiro, porque um texto necessita da leitura para completar seu ciclo de existência; segundo, porque quando criamos uma história pensamos em tudo sobre ela e em diversas possibilidades para esses elementos constituintes da trama. E temos que estabelecer como tais ideias serão passadas da nossa mente aos leitores. Precisamos saber se a entrega funciona bem em todos seus detalhes; se não denunciamos demais em momento errado ou deixamos faltar informações necessárias, iludidos pelo nosso próprio conhecimento da história. Além disso, há uma questão que me parece cada vez mais importante: o quanto nossa visão de mundo pode se beneficiar da comparação com outros olhares. É um grande diálogo, a arte de escrever e ser lido; por isso, acho fundamental se abrir aos dois lados da comunicação em algum momento do processo.”
Rafael Gallo é autor do romance “Rebentar” (Record, 2015), vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura. Também publicou o livro de contos “Réveillon e outros dias” (Record, 2012).
O Álbum de Memórias atua com leitura crítica profissional para seus autores, sempre buscando dar sugestões construtivas à trama e à temática abordada, ao arco dos personagens e à linguagem literária.
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