Continuando a coluna “Escritor do mês”, o Álbum de Memórias traz agora o perfil de um dos maiores nomes do Jornalismo Literário hoje, o americano David Grann.
Início de carreira
Logo após se graduar em Jornalismo em 1989 pela Universidade de Connecticut, David Grann ganhou a Thomas Watson Fellowship, uma bolsa que permitia aos formandos um ano de estudos independentes fora dos Estados Unidos. Grann foi para o México e lá começou sua carreira como jornalista freelancer. Nessa época, seu maior interesse era a ficção e sua aspiração era tornar-se romancista.
Hábil apurador de informações, Grann rapidamente deslanchou como jornalista, enquanto em paralelo se pós-graduou em Relações Internacionais e aprimorou suas técnicas narrativas em cursos de escrita criativa, chegando por fim a destacar-se na conceituada revista The New Yorker, onde trabalha desde 2003.
Jornalismo Literário
Mas ele não parou por aí. Em 2009, David publicou seu primeiro livro de não ficção, “Z, a Cidade Perdida”. A obra é uma ambiciosa reportagem sobre a vida e a morte de Percy Fawcett, explorador inglês do início do século 20 que, após algumas expedições cartográficas na Amazônia, desapareceu sem deixar rastros em 1925 na região onde hoje fica o Parque Nacional do Xingu. O livro foi um sucesso, alçado a best seller pelo New York Times e transformado em longa-metragem em 2016 pelo diretor e roteirista James Gray.
Desde o início de sua carreira de escritor, Grann mostrou-se atraído por períodos históricos conturbados e personagens que alcançaram feitos incríveis e sacudiram o imaginário de suas épocas. Isso, talvez, explique seu forte apelo com o público, sendo cinco de seus livros ou reportagens já adaptados para o cinema. O próximo será “Assassinos da Lua das Flores” (2017), um drama criminal sobre membros da tribo indígena Osage, nos EUA, que foram assassinados em circunstâncias misteriosas na década de 1920, dando início à primeira grande investigação do recém-criado FBI. A obra está atualmente sendo filmada por Martin Scorsese, com Leonardo DiCaprio no elenco.
Outros livros e reportagens
“O diabo e Sherlock Holmes”, de 2012, é um livro sobre crimes reais que traz muitas histórias de Grann para a The New Yorker, indo desde a morte misteriosa do maior especialista em Sherlock Holmes no mundo, até um escritor polonês que pode ter deixado pistas para um assassinato real em seu romance pós-moderno.
“The old man and the gun” segue a mesma linha, com três contos sobre crimes reais, sendo este, que dá nome ao livro, a incrível história de um ladrão de banco e especialista em fuga de prisão que, mesmo na casa dos setenta anos, se recusou a se aposentar.
Seu livro mais recente, “The white darkness” (2018), retoma os temas de aventura, conquista e obsessão abordados em “Z, a cidade perdida”, dessa vez num cenário bem diferente. A história acompanha o explorador Henry Worsley, que se lançou na Antártica duas vezes: em 2008 com uma tripulação, e em 2015, absolutamente sozinho, no intuito de atravessar o inóspito território.
Herdeiro de Truman Capote?
As histórias de David Grann são tão bem contadas, com narrativas cadenciadas, personagens complexos e moralmente ambíguos, que por vezes o leitor tem a impressão de mergulhar em uma obra de pura ficção. Ao lembrar-se que boa parte daquilo é real, fruto de minuciosa investigação jornalística com uma elegante roupagem ficcional, entende-se porquê já se referiram a Grann como “herdeiro legítimo de Truman Capote” e “simplesmente o melhor escritor de não ficção em atividade hoje ”.