Muitas vezes temos uma ótima ideia na cabeça, mas quando sentamos para escrever, parece que a inspiração para transformar aquela ideia em obra literária (ou incorporar a uma obra já em andamento) simplesmente não dá as caras.
A boa notícia é que há diversas maneiras de contornar este problema.
Neste artigo, trazemos dicas valiosas de 10 escritores que conquistaram um espaço significativo na literatura brasileira contemporânea. Veja como estes autores estimulam a criatividade no dia a dia e deixam a inspiração fluir para dentro de seus livros.
Adriana Lisboa
Acho que citaria, como três ações que me motivam para escrever, ir para a rua, voltar para o silêncio, e às vezes intercalar o silêncio com música (mas tem que ser instrumental, a música com letra me distrai…).
André de Leones
Creio que as coisas que mais estimulam a minha criatividade são a observação, as leituras e o contato com outras pessoas. Ou seja, tudo se resume à vivência e o que ela envolve, desde caminhar pela cidade onde vivo até viajar para outros lugares, aqui e lá convivendo com outras pessoas, ouvindo, prestando atenção. E, claro, a leitura, o cinema, a música, isto é, as artes em geral também são gatilhos. Sobretudo a leitura. Em suma, seja por meio das experiências, seja por meia das artes, é uma questão de estar sempre à disposição do outro e do que ele tem a dizer e mostrar.
Carol Rodrigues
Tenho três ações muito básicas que funcionam pelo menos pra manter uma continuidade, o que eu já considero um milagre:
1 – perguntar por que escrevo, todo dia ou quase, não conseguir responder e escrever até que se minimize a angústia; escrever mesmo quando a pergunta não vem.
2 – andar entre o controle e o risco, errar bastante os cálculos dessas medidas, errar por dentro delas.
3 – olhar pros erros; escolher um deles pra amar e bancar, pelo menos por um tempo.
Eduardo Spohr
Em primeiro lugar, acho que todo artista deve manter suas antenas ligadas. Todos os aspectos da vida, assim como as pessoas, os lugares por onde você passa e até os nossos conflitos e conquistas, são fontes inesgotáveis de inspiração. Também creio ser importante, no caso específico de um escritor, escrever sempre, todo o dia; nunca perder o contato com a escrita — especialmente quando estiver trabalhando em um texto, em um conto, romance, novela, roteiro, etc. Finalmente, ao desenvolver um projeto em especial, é necessário correr atrás de referências. A pesquisa é um dos maiores combustíveis para a criatividade. Você vai pesquisando e descobrindo coisas incríveis. O difícil é, justamente, saber a hora de parar.
Edyr Augusto
O escritor é um observador por excelência. Vai amontoando essas observações até começar a escrever um livro e escolher os personagens. Quanto ao enredo, penso nele por bons meses. Nada escrevo. A partir da escolha, as observações vão montando o que deve ser escrito. Cada livro meu foi escrito de uma maneira, uma provocação, um horário fixo. Como elaboro com calma, quando chega o momento de escrever, tudo transcorre bem rápido. Deixo os personagens me levarem. Raramente sei como terminará. Em “Pssica”, escrevi um capítulo por dia. Pensava sobre o que havia escrito e o que viria a seguir. No dia seguinte, revisava e partia para o novo capítulo. De qualquer maneira, há um gatilho que não identifico, porque pode ser qualquer estímulo, para que inicie a escrita do que venho pensando há tempos. E durante esse tempo de escrever, que é breve, sou a pessoa mais feliz do mundo.
Henrique Rodrigues
A principal para o meu caso hoje é encontrar o tempo para a leitura e escrita. Trabalho muito, sou casado e com filhos, de modo que a vida ordinária está sempre querendo ocupar todo o tempo. Há 10 ou 15 anos, claro esse item não existiria… A leitura de bons livros de prosa e poesia ajuda a estimular a cuca para a escrita. Tem gente que não liga pra isso pra não sofrer influência, mas não é o meu caso. Mais importante que a escrita é a reescrita, onde se passa uma peneira no que foi feito. É nessa etapa que devemos ter frieza com o texto, tratá-lo como massa de pão, bater, e muitas vezes percebemos que aquela ideia não era tão genial assim e deve ser limada.
Marcelo Moutinho
Em geral, a principal estratégia é mesmo a observação. Andar pelas ruas atento às conversas, às situações, ao discurso que a cidade constrói cotidianamente, dia após dia. Gosto, também, de partir do diálogo com outras artes, sobretudo a música. Definido o mote, ou o protagonista, então vem a fase da criação ficcional. Imaginar um pequeno universo para aquele personagem, seu perfil psicológico, seu modo de ver o mundo. A trama quase sempre nasce daí. Sem esquecer, claro, que nossas experiências pessoais muitas vezes servem igualmente como matéria-prima. O trabalho posterior é de burilamento. Cortar excessos, frases que dizem demais e acabam por tirar o espaço do leitor. Porque, sim, acredito que um romance, um conto, uma crônica, um poema só se realizam inteiramente no encontro com o leitor.
Micheliny Verunschk
No meu trabalho como romancista são dois os motores que acionam o trabalho criativo. O primeiro deles é a leitura de outros escritores. Nada me instiga mais no meu exercício de escrita que tomar contato com os modos de fabulação de uma outra pessoa. O segundo motor é a pesquisa, seja a pesquisa histórica ou digamos humana: fotografias, conversas pescadas na rua, no ônibus, análise de modos de conversar, de andar, de usar o corpo etc. Assim penso que para mim a criatividade passa por estar atenta ao outro, ao fora de mim, às ruas e depois por transformar esse material que chega em estado bruto em ficção.
Rafael Gallo
As três principais coisas que faço para estimular minha criatividade são: 1) Ler. Não existe músico que não seja um fã de música antes, não existe atleta que não seja um fã do esporte antes. O escritor é igual, é preciso ser apaixonado pela literatura para dar de volta essa paixão na hora de escrever. Além de ler como um hábito constante, antes de escrever sempre leio algo que gosto, algo que me coloque num “estado de literatura”, como ouvi o Julián Fuks dizer outro dia. 2) Sair pra rua. Há muitas coisas dentro de um livro, mas sempre há mais fora deles. De vez em quando é bom sair para a rua, fazer outras coisas da vida: comer e beber algo prazeroso, conversar com pessoas, ver os prédios e grafites e habitantes da cidade, assistir a um filme no cinema, parar para ouvir um músico de rua tocando, observar a(s) vida(s) em seu constante movimento. 3) Me recordar sempre, sempre, do menino sonhador que eu fui e quero continuar sendo.
Estes depoimentos fizeram parte de um artigo publicado no blog do Espaço Livre Marketing Literário, em 2019.