Ao tratar de escrita criativa, muito se fala sobre criação de tramas, personagens, arcos dramáticos, ambientação, linguagem, estilo. Mas a importância da pesquisa por vezes é deixada de lado.
A pesquisa é fundamental para que todo autor ou autora possa se aprofundar nas temáticas que perpassam um projeto de romance, ou até mesmo de um livro de contos.
Desconstruindo sua história
Para saber quais assuntos deve pesquisar, é preciso já ter uma versão avançada da estrutura do seu livro. Somente assim será possível desmembrar os temas e conhecimentos específicos que precisa adquirir, de modo a garantir a verossimilhança (ou o realismo, em alguns casos) da sua história.
Portanto, não adianta ter apenas algumas linhas gerais da sua sinopse. De preferência, o autor ou autora precisa ter escrito um resumo de cada capítulo do livro até o desfecho.
Pesquisa de campo
Em muitos casos, a pesquisa de campo é fundamental. Se a sua obra for um suspense contemporâneo ambientado em São Luís (MA), com um protagonista policial, a história deve obedecer a critérios realistas para que faça sentido e ganhe credibilidade com o leitor.
Isso inclui pesquisar procedimentos e códigos da polícia local, conversar com alguns investigadores de modo a criar personagens convincentes e instigantes, além de conhecer a “dinâmica” da cidade de São Luís, sua geografia, seus problemas sociais, etc.
Portanto, nesse caso, é necessário sair ao campo e conversar com pessoas, visitar locais públicos, sentir a atmosfera dos bairros e dos tipos humanos que habitam a cidade.
Lembre-se: a pesquisa não é apenas para catalogar informação. A experiência de estar nos lugares, de conversar com pessoas, de acionar nossos sentidos e nossa sensibilidade humana, de entender como operam certas emoções em alguns contextos (medo, culpa, raiva, depressão, etc.) nos impulsiona novas perspectivas que podem ser usadas no livro. Além, é claro, de nos deixar mais confiantes no resultado do trabalho.
Entrevistas
Falamos um pouco sobre isso na pesquisa de campo, mas as entrevistas são tão importantes, que merecem um destaque a mais. Independente do gênero narrativo do seu livro, ao fazer a desconstrução mencionada no início deste artigo, certamente você chegará a alguma conclusão sobre alguém para entrevistar − um médico anestesista, um advogado criminalista, uma delegada, um pescador, uma professora, etc..
Contudo, as entrevistas vão além da necessidade de se entender as particularidades dessa ou daquela profissão. Elas podem ajudar a compreender a experiência de se viver em determinado lugar, dos hábitos, costumes e crenças de uma comunidade específica, ou até a chegar mais próximo da essência do seu personagem, ao conversar com alguém que tenha um estilo de vida e valores semelhantes.
Leituras
Nem por isso, claro, as leituras, deixam de ser fundamentais na pesquisa de uma trama de ficção. São elas que, essencialmente, garantem um volume suficiente de informações para que o autor ou autora possa embasar suas escolhas narrativas.
Em alguns casos, o volume de leituras será maior, geralmente quando a obra trata de assuntos relacionados à História, Antropologia, Sociologia, Filosofia, ou até mesmo às ciências exatas, como um personagem matemático, por exemplo.
Se o seu livro for uma história sobre povos originários da Amazônia no século 17, será preciso buscar referências bibliográficas nesse sentido, ler, anotar, organizar documentos com informações relevantes e que possam ser aproveitadas na sua história. Mas também buscar autoridades no assunto para entrevistá-las.
A pesquisa faz parte do processo criativo da escrita de um livro, portanto aproveite cada momento dela.