Autoficção – Fabulando a matéria-prima do real

Autoficção – Fabulando a matéria-prima do real

A autoficção é um gênero que tem crescido bastante nos últimos anos. Mas o que a diferencia da autobiografia, do livro de memórias, ou da ficção pura e simples?

Todos nós já passamos por alguma vivência dramática, cômica, ou inusitada: a perda de um grande amor, uma viagem inesquecível, um evento transformador, uma coincidência impressionante… a vida é um panorama de possíveis histórias com a capacidade de emocionar, impactar e influenciar pessoas.

Buscando na memória

Por isso, o autor ou autora de autoficção é alguém que retira de suas próprias experiências pessoais elementos para criar uma história nova. O poder destas lembranças, as pessoas e lugares que conheceu, os sons, cores e cheiros que sentiu, tudo isto pode ser descrito com mais propriedade porque fazem parte da própria bagagem de vida, o que cria uma grande vantagem narrativa.

Mas e o elemento ficcional? O que diferencia a autoficção da autobiografia?

A criação ficcional

A escrita de autoficção, como o nome já diz, não se restringe às memórias, mas permite que o autor ou autora possa criar, fabular, fabricar novos acontecimentos, personagens ou qualquer outro elemento, em benefício da sua história.

Em essência, a autoficção é um gênero que pega o melhor dos dois mundos: concilia o recorte mais interessante da experiência pessoal e única, aquilo que apenas você poderia contar, com a habilidade criativa do ficcionista.

O maior desafio da autoficção, portanto, é equilibrar as camadas de realidade e ficção da obra. Ou seja, por mais que os acontecimentos tenham de fato se passado conosco, é possível ficcionalizar certos momentos ou situações. A literatura pede isso. A literatura não é vida real, mas um pouco mais, é trabalhar sobre a matéria-prima da vida real a fim de conseguir uma nova camada de significados e conclusões.

Nem tudo precisa ser descrito exatamente como aconteceu, é preciso fabular um novo ponto de vista, uma nova saída, para deixar o leitor com aquele gostinho de “realmente aconteceu assim?”.

Mas, ao ler uma obra de autoficção, o que é real e o que é fabricado? Não cabe ao leitor saber, e isso é parte da magia e do mistério deste gênero.

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