“Por que escrevo?”. Essa é uma pergunta que muitos escritores, sobretudo de ficção, mais cedo ou mais tarde, acabam se fazendo. Ou não. Alguns apenas seguem essa espécie de “chamado”, sem questionar suas razões.
A resposta que cada um tem para exercer o ofício da escrita é algo profundamente subjetivo, podendo ser de natureza existencial e filosófica como a de Fernando Pessoa (“Escrevo para salvar a alma”), irônica como a de García Márquez (“Para que meus amigos me amem mais”), ou pragmática como de William Faulkner (“Para ganhar a vida”).
É fascinante ouvir o que esses autores e autoras que admiramos têm a dizer sobre suas motivações. Por isso, separamos alguns depoimentos que valem a leitura.
Clarice Lispector
“Eu tive desde a infância várias vocações que me chamavam ardentemente. Uma das vocações era escrever. E não sei por que foi essa que segui. Talvez porque para as outras vocações eu precisaria de um longo aprendizado, enquanto que para escrever o aprendizado é a própria vida se vivendo em nós e ao redor de nós. É que não sei estudar. E, para escrever, o único estudo é mesmo escrever. Adestrei-me desde os sete anos de idade para que um dia eu tivesse a língua em meu poder. E, no entanto, cada vez que vou escrever, é como se fosse a primeira vez. Cada livro meu é uma estreia penosa e feliz. Essa capacidade de me renovar toda à medida que o tempo passa é o que eu chamo de viver e escrever.”
George Orwell
“Eu tinha o hábito das crianças solitárias de inventar histórias e conversar com pessoas imaginárias, e acho que desde o início minhas ambições literárias se misturavam com o sentimento de me sentir isolado e menosprezado. Sabia que tinha uma facilidade com as palavras e um poder para encarar fatos incômodos, e sentia que isso criava uma espécie de mundo privado que poderia compensar minhas falhas na vida cotidiana.”
Elena Ferrante
“Meu maior medo é de repente sentir que dedicar tanto da minha vida à escrita seja algo sem sentido. É uma sensação que me ocorre com frequência e temo que retorne. Eu preciso de muita determinação, de teimosia, de um aderência passional à página para não sentir a urgência das outras coisas por fazer, uma maneira mais ativa de passar a minha vida. Então sim, eu sou frágil. Para mim, é muito fácil notar as outras coisas e me sentir culpada. Por isso, é de orgulho que preciso, mais do que de força. Enquanto estou escrevendo, preciso acreditar que cabe a mim contar essa ou aquela história e que seria errado me esquivar ou deixar de usar minhas melhores habilidades para completá-la.”
Ray Bradbury
“É preciso se embriagar da escrita para que a realidade não o destrua. Escrever oferece exatamente as receitas adequadas de verdade, vida, realidade que você é capaz de comer, beber e digerir sem sofrer de hiperventilação ou agonizar como um peixe fora da água em sua cama. (…) Nas minhas jornadas, aprendi que fico ansioso se passo um dia sem escrever. Dois dias, começo a tremer. Três, suspeito de demência. Quatro, sou um porco chafurdando na lama. Uma hora de escrita é como um tônico. Fico em pé, correndo em círculos e gritando por um par de sapatos limpos.”
Orhan Pamuk
“Escrevo porque tenho uma necessidade inata de escrever. Escrevo porque não posso fazer um trabalho normal como as outras pessoas. Escrevo porque quero ler livros como os que escrevo. (…) Escrevo porque gosto de me sentar a escrever todo o dia. Escrevo porque só posso participar na vida real mudando-a. Escrevo porque quero que todos saibam que tipo de vida continuamos a viver em Istambul, na Turquia, e escrevo porque amo o cheiro do papel e da tinta.”