Das páginas às telas – Principais formas de adaptação de Livros para o Cinema

Das páginas às telas – Principais formas de adaptação de Livros para o Cinema

Além de lançar o próprio livro, outro grande sonho de muitos autores é ver seu trabalho adaptado para o meio audiovisual. Em contrapartida, produtores e diretores buscam constantemente novos projetos nas páginas de ficção ou não-ficção publicadas ao redor do mundo. Mas uma vez que um livro é escolhido para ganhar as telas, surge um novo desafio – adaptar.

Ser fiel ao livro ou modificar alguma coisa? Trazer o autor para ajudar na adaptação ou criar de forma mais livre? Esse cabo de guerra sempre divide opiniões e é comum que, entre gregos e troianos, os fãs acabem se dividindo e gostando apenas do livro ou apenas do filme. A situação é ainda mais caótica se a obra literária for um grande sucesso, como um best seller, por exemplo. Pensando nisso, o Álbum de Memórias lista a seguir as formas mais comuns de adaptação literária e dicas de obras para você ler e assistir em casa.

Quando a adaptação é fiel ao livro

A primeira opção é a preferida da maioria dos fãs literários: a adaptação fiel do texto para a tela. Dependendo do livro que será adaptado, pode ser dificílima; obras de Fantasia, Terror e Ficção Científica, por exemplo, geralmente não ganham uma adaptação fiel por conta da dificuldade técnica (e financeira) em transpor para a tela elementos como seres mitológicos, fantasmas amaldiçoados e alienígenas.

Garota Exemplar

Por outro lado, livros de Romance ou histórias urbanas são exemplos de que adaptar de forma fiel dá certo. Podemos citar “Garota Exemplar”, da escritora Gillian Flynn, e “Trainspotting”, de Irving Welsh, ambos adaptados de forma exata para a telona. O trillher de Gillian Flynn foi dirigido por David Fincher (também diretor de “Clube da Luta”, outra adaptação), e nos mostra a história do relacionamento cheio de segredos entre Amy e Nick Dunne, interpretados por Rosamund Pike (indicada ao Oscar pelo papel) e Ben Aflfleck.

Trainspotting

“Trainspotting” conta a história de quatro amigos em meados da década de 1990 em Edimburgo, na Escócia, que, à primeira vista, estão sempre em busca de drogas, mas, na verdade, se tratam de jovens que não concordam em aceitar as convenções da vida adulta, como ter um emprego e/ou uma família tradicional.. O filme foi dirigido por Danny Boyle e foi considerado pelo The New York Times em 2004 como um dos 1000 melhores filmes já produzidos.

Quando o filme omite informações do livro

Limitações financeiras, tecnológicas ou referentes à duração do filme podem fazer com que produtores omitam certas informações do livro na adaptação cinematográfica. Essa forma de releitura visual pode frustrar muitos leitores do livro, mas se o resultado cinematográfico for positivo, tende a agradar os não-leitores da obra. Dois exemplos funcionam bem para ilustrar essa categoria: “O Poderoso Chefão”, de Mario Puzo, e “Estação Carandiru”, de Drauzio Varella.

O Poderoso Chefão

O livraço de Mario Puzo foi aos cinemas adaptado por Francis Ford Coppola em 1972, 1974 e 1990. Na tela, Marlon Brando interpreta Vito Corleone, Don de Nova York e da família Corleone; Michael Corleone, o filho mais novo, interpretado por Al Pacino, assume o posto após o assassinato do pai. Mesmo com três filmes, muita coisa ficou de fora das telonas (principalmente sobre a origem das outras famílias mafiosas), porque, para tornar a história mais coesa, optou-se pelo foco narrativo na família Corleone.

Carandiru

“Estação Carandiru” foi aos cinemas apenas como “Carandiru”, em 2003, com direção de Héctor Babenco. Nas telas, as vivências de um médico sanitarista que se oferece para realizar o trabalho de prevenção ao vírus HIV no Carandiru, maior presídio da América Latina, durante os anos de 1990. A obra literária conta com dezenas de causos e personagens que ultrapassam o cotidiano do médico, mas nem todas essas pessoas e histórias foram retratadas nas telas – apesar de superprodução, seria necessário um filme ainda mais longo para contar todas aquelas realidades.

Quando o filme trabalha de forma diferente a obra literária

Nesta categoria estão os livros difíceis de serem adaptados, seja por conta da linguagem inovadora ou porque as histórias simplesmente contêm elementos difíceis de ganharem vida na tela. Novamente, limitações financeiras ou de produção estão na mesa, contudo, aqui também estão diretores autorais que gostam de adicionar uma visão particular à história.

Laranja Mecânica

“Laranja Mecânica”, escrito por Anthony Burgess em 1962, chegou ao cinema adaptado por Stanley Kubrick em 1971, e talvez seja um dos grandes exemplos de obra cinematográfica que se sustenta por conta da estética incomum utilizada pelo diretor. Kubrick transformou o livro de Burgess, violento e algumas vezes de difícil entendimento, em uma viagem perturbadora por temas como sociopatias, violência juvenil, psiquiatria e segurança social – com clássicos de Beethoven como parte da trilha sonora. Uma verdadeira obra de arte.

Alice no País das Maravilhas

“Alice no País das Maravilhas”, escrito por Lewis Carroll, chegou aos cinemas com atores reais e animados em 2010, sob direção do excêntrico Tim Burton. O diretor é conhecido por sua estética gótica, sombria, por vezes extravagante e incomum, e com essa adaptação não foi diferente. Com Helena Bonham Carter (Rainha Vermellha) e Johnny Depp (Chapeleiro Louco), atores frequentes nas produções do diretor, e grande elenco tanto real quanto virtual. Tim Burton faz uma Alice de 19 anos que cai no mundo subterrâneo e descobre que deve destronar a Rainha Vermelha em favor da Rainha Branca (Anne Hathaway). O estilo do diretor é visualmente impactante e adiciona camadas mais surreais e de terror à história. O filme ganhou Oscars de Melhor Direção de Arte e Melhor Figurino em 2011, e arrecadou mais de um bilhão de dólares ao redor do mundo.

Quando o filme muda a história do livro

Aqui temos diretores e produtores que compram os direitos de uso da obra literária, contudo decidem modificar elementos da história com ou sem a anuência do autor. Não contentes apenas em inserir uma forma diferente de tratar a história, eles mudam aspectos da trama a fim de criar uma nova história ou para chamar a atenção a determinados pontos que não foram totalmente explicados no texto ficcional. Outra justificativa para tais adaptações é a diferença entre as mídias; a literatura tem uma linguagem e o cinema tem outra, por isso, alguns diretores tomam quase como obrigação alterar alguma coisa.

Eu, Robô

“Eu, Robô”, por exemplo, livro de contos de Isaac Asimov, chegou aos cinemas em 2004 pelo diretor Alex Proyas, com Will Smith no papel principal de Del Spooner, um personagem que sequer existe no livro. Enquanto o trabalho de Asimov traz dez contos que mostram a evolução dos robôs e as formas de convivência deles com os humanos (uma espécie de sociologia da relação homem-robô), o filme se utiliza de conceitos do livro para criar uma história de investigação envolvendo uma espécie de “Revolução das máquinas” contra a humanidade. Will Smith interpreta o detetive que desconfia da trama dos robôs. A produção, portanto, apenas se utilizou dos contos de Asimov como inspiração para criar uma história cinematográfica possível, mas sem correspondente no livro, dentro daquele universo do autor. O filme foi um sucesso de bilheteria.

O Iluminado

“O Iluminado”, um dos primeiros livros de Stephen King, chegou aos cinemas em 1980 por Stanley Kubrick, e é um caso de adaptação que causou mal estar entre o escritor e o diretor. King não esconde que odeia o filme de Kubrick, e considera que não há nada parecido entre seu livro e aquela representação cinematográfica. Para o escritor, sua história é intimista com toques de terror psicológico, afinal o protagonista sofre com problemas de alcoolismo, algo que King enfrentou por alguns anos. Por outro lado, o filme de Kubrick constrói uma atmosfera entre assombros, terror e insanidade – para muitos, um dos grandes filmes de suspense já feitos. Opiniões à parte, a briga entre os dois era tanta que, enquanto King dizia que o filme era péssimo, Kubrick respondia que gostava de adaptar livros ruins, porque rendiam bons filmes.

Por fim, qual a melhor opção? Adaptar fielmente? Interferir no texto original? O que é melhor: o filme ou o livro? A única certeza é que, seja qual for o futuro dos livros, eles nunca deixarão de ser uma fonte para as produções cinematográficas.

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    • Gerson Augusto Gastaldi
      02 julho, 2020

      No formidável hall da literatura brasileira, inúmeros autores principiantes e insignes talentos, gostariam de ver seus nomes no rol de obras estampadas ao público. Porém, uma multidão de vocacionistas literários estão impossibilitados de fazê-lo, não só pela frágil estrutura econômica em que atravessa o país, como também pelas dificuldades oferecidas pelas editoras às suas publicações. Nesse contexto, entendo que flutua uma lacuna no setor que possa realizar uma política de facilitação e estímulo a todos os atletas que se habilitem numa competição literária. Poderia haver muito mais acolhimento, incentivos e contemplações nessa apreciação aos novos autores e iniciantes da arte. Os concursos literários que se propagam nessa esfera são muito seletivos e exigentes, pois acolhem preferencialmente autores com obras publicadas e de longo percurso. Sendo assim, os sites e blogs na área literária poderiam abrir suas portas às novas mentes do pensamento escrito, auferindo-lhes condições, um pouco de auxílio e promovendo seus trabalhos de iniciantes gratuitamente. Esse lado de compartilhamento certamente alentaria os marujos de primeira viagem a envergarem seus arpões de conquistas neste mar revolto da literatura nacional. Isso traria lucros a todos, colocando o país na vanguarda editorial brasileira. Esse é o meu olhar esperançoso para que os navegantes venham embarcar e excursionar neste transatlântico de sucesso.