Gay Talese – A força do anonimato

Gay Talese – A força do anonimato

Em outubro, o Escritor do Mês é um dos expoentes do que se chama Novo Jornalismo, aquele que é conhecido por criar perfis de personalidades famosas ao redor do mundo, mas que sempre deixou claro que prefere investigar e escrever sobre a vida de pessoas anônimas: Gay Talese.

Redefinindo o Jornalismo

Jornalista por formação, entre 1955 e 1965 trabalhou no New York Times (escreveu sobre isso em “O reino e o poder”) e depois tornou-se colaborador de várias revistas, em especial a “Esquire”, que contava com nomes de peso como Norman Mailer, John Sack e Tom Wolfe.

Na “Esquire”, Talese e companhia criaram um movimento de incorporar técnicas de Literatura ao fazer jornalístico. O Novo Jornalismo unia a precisão e o apuro investigativo com a imersão da Literatura, resultando em uma linguagem mais subjetiva, com os repórteres “vivendo” suas matérias e compartilhando informações por uma perspectiva mais singular, literária.

Na “Esquire”, Talese trabalhou com perfis de pessoas anônimas e também famosas, e logo em seu primeiro ano, 1966, emplacou dois artigos que são referência até hoje em Novo Jornalismo: “Frank Sinatra está resfriado” e “A temporada de silêncio de um herói” (sobre o jogador de basebol Joe DiMaggio).

Carreira de autor

Os textos de Talese se tornaram famosos por conta da construção, da minúcia de apuração e fluência ao noticiar, e sua carreira como jornalista de perfis deslanchou. Foi a partir de uma coletânea dos melhores textos que, no final daquela década, publicou seu primeiro livro: “Fama e Anonimato”. Nessa obra, Talese trabalhou o “homem comum” com o mesmo apreço e atenção de uma personalidade conhecida, alçando-os ao mesmo nível.

Em 1971, um ano após seu primeiro livro, Talese lançou outra obra que alcançou sucesso de público e crítica, “Honra teu pai”. Fruto de sete anos de entrevistas, nesse livro, o jornalista investigou o clã Bonanno, uma das cinco famílias que dominavam o crime organizado na Nova York da década anterior, especialmente a partir da relação entre o pai, Joseph Bonanno, e o filho, Salvatore Bonanno.

Nos anos de 1970, o jornalista se lançou em uma nova empreitada bem diferente das investigações da máfia: a vida sexual americana.

Disposto a escrever uma obra sobre a mudança nos costumes sexuais e da sexualidade americana, Talese viajou por vários locais do país para investigar sobre poliamor, a ascensão da revista “Playboy”, Marilyn Monroe, mudanças de leis sexuais, colônias hippie de amor livre, e temas ligados à história sexual americana. As reportagens especiais tinham como principal destino a “Esquire”, e o resultado foi a publicação de “A mulher do próximo”, em 1981.

A força dos anônimos

Ali e em seus livros posteriores, como “Vida de escritor” (2006) e “O Voyeur” (2016), seu estilo de frases concisas, apreço pela apuração da história e ritmo para contá-las como um exímio romancista, se consolidaram. Em 2011, Talese ganhou o Prêmio Norman Mailer de Jornalismo.

Gay Talese se tornou uma referência para o Novo Jornalismo, sempre reiterando em entrevistas − como as que concedeu no Brasil, em 2009, para participar do Festival Literário de Paraty (FLIP) − que não gostava de apurar histórias de famosos, mas sempre de anônimos, homens e mulheres que povoam Nova York, Estados Unidos e todo o mundo com histórias mais impressionantes do que podemos imaginar.

Leitura recomendada: “Vida de Escritor”

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    • Marco Antonio Ermida Martire
      14 outubro, 2021

      Texto instigante, que nos apresenta de forma abrangente a obra de um grande jornalista e escritor. Parabéns!