Conduzir uma boa entrevista não é tarefa simples. Sobretudo quando se trata de um trabalho de jornalismo investigativo, ou ghostwriting para um livro de memórias ou biográfico, como fazemos no Álbum de Memórias.
Nesses casos, deve-se considerar não apenas as perguntas que serão feitas, mas de que forma elas serão organizadas no sentido de encadear uma peça de informação na outra, assim como o estado emocional do entrevistado naquele processo.
Ruy Castro dá o exemplo
Numa palestra na Estação das Letras (RJ) em 2019, o escritor e biógrafo Ruy Castro compartilhou um método que utilizou na organização das suas entrevistas para a escrita da biografia de Garrincha, intitulada “Estrela Solitária” (1995).
Ele sabia que uma personagem fundamental para o livro seria a cantora Elza Soares, que havia sido casada com o biografado por 16 anos. Descobriu também que um empregado havia acompanhado de perto a vida do casal, como uma espécie de mordomo, motorista e faz-tudo, e Ruy Castro fez questão de falar com ele antes de conversar com Elza.
Nessa entrevista, ficou sabendo de uma briga homérica entre o casal, na voz deste homem que estava presente na casa e lembrava-se do episódio com riqueza de detalhes.
Assim, quando Ruy Castro finalmente entrevistou Elza Soares, chegou logo perguntando sobre este incidente e apresentando tudo o que sabia a respeito. Segundo ele, Elza ficou muito emocionada, não esperava aquilo, e isto fez com que ela abrisse mais sua intimidade.
Uma relação de confiança
Este é apenas um exemplo para mostrar como a organização de uma entrevista, o planejamento prévio, é fundamental para que ela seja aproveitada ao máximo. Despertar confiança no entrevistado é um elemento-chave. Se ele(a) vai falar sobre sua vida pessoal, afetiva e até íntima, o entrevistador precisa demonstrar cumplicidade, que não está lá para explorar estes detalhes por interesse sensacionalista, mas sim informativo.
Afinal, nenhum livro é escrito apenas com dados frios, a emoção é fundamental para tocar o leitor, e ela precisa estar presente nesta relação desde o início.
No caso de uma entrevista presencial, outros detalhes também devem ser considerados, como o local da conversa, por exemplo.
O ambiente deve trazer tranquilidade ao entrevistado, de modo que ele se sinta confortável e seguro para compartilhar os eventos e a intimidade da sua vida. É um fator muitas vezes imperceptível, mas que exerce uma influência psicológica no estado de espírito da pessoa.
Por fim, se quiser publicar um livro sobre a sua história, sua área de atuação ou apenas saber mais sobre nosso trabalho, fale com a gente.